Eu faço minhas as palavras de meu amigo Ricardo Seelig, da Collector's Room.
"Ao dar play em Blunderbuss, estreia solo de Jack White, uma
sensação acompanha o ouvinte durante toda a duração do disco: a de estar
presenciando a história ser escrita. O vocalista e guitarrista norte-americano
gravou um álbum impressionante, cuja audição emociona por mostrar um artista
acertando todas e não dando nenhuma bola fora. Das notas do Piano Rhodes que
introduzem “Missing Pieces”, a música de abertura, até os últimos momentos da
faixa de encerramento, “Take Me With You When You Go”, Jack White nos brinda
com um brilhantismo singular.
As treze faixas de Blunderbuss são fortes, criativas, com
arranjos que viram de cabeça para baixo os vários estilos pelos quais transitam
- muitas vezes, mais de um ao mesmo tempo. Totalmente escrito, composto e
produzido por Jack White, o disco está sendo lançado pela gravadora do músico -
a Third Man Records - e é a prova cabal do talento de um artista sem igual.
Blunderbuss tem rock de garagem barulhento nas guitarras
estridentes de “Sixteen Saltiness”, que encheriam os Stooges de orgulho. Tem
Jack cantando de forma falada como se fosse um rapper em “Missing Pieces” e na
espetacular “Freedom at 21”, uma espécie de rap blues, se é que esse termo
existe. Tem o lamento doído de “Love Interruption”, dona de uma beleza tocante.
A faixa-título parece saída dos momentos mais contemplativos do Led Zeppelin. E
assim o disco vai se sucedendo, pegando o ouvinte de calças curtas em cada
canção, fazendo nossos queixos caírem cada vez mais até não termos para onde ir
e estarmos quase ajoelhados agradecendo aos céus pela oportunidade de
presenciar um talento tão iluminado vivendo o seu ápice criativo.
A influência sempre presente de Jimmy Page continua, mas agora se
estende a aspectos muito além da maneira de tocar guitarra. Jack White emerge
como o herdeiro legítimo da capacidade que Page tinha de conduzir como um maestro
a sua música pelos mais variados caminhos, sempre alcançando resultados muito
superiores aos seus pares. White faz a mesma coisa em 2012. Blunderbuss
é um disco incrível, que injeta doses enormes de modernidade no rock e no
blues, renovando-os como poucos artistas hoje são capazes, e fazendo tudo isso
sem afastá-los de suas raízes.
Blunderbuss transforma Jack White de um ícone do indie e do
rock alternativo em um músico muito maior, com uma amplitude gigantesca, capaz
de atingir os mais variados públicos.
Uma
espécie de Willy Wonka da música, um gênio apaixonado e totalmente comprometido
com a sua arte. Este é Jack White, um cara cuja carreira todo mundo que é
apaixonado por música deveria acompanhar de perto."