O rock brasileiro sempre teve seus altos e baixos. Atualmente, uma leva de bandas muito legais estão aí, mostrando seus trabalhos pra quem quiser ver, seja de forma independente ou através de uma gravadora (fato raro hoje em dia). Bandas como Selvagens À Procura De Lei, Nevilton, Rinoceronte, Black Drawing Chalks, Radiophnics, Cachorro Grande, entre tantas outras que sabem fazer rock. E do bom!
Mas aí, em todas as minhas leituras e pesquisas, notei que essas bandas, essas mesmas que estão aí hoje, só existem porque, lá num passado distante, pelos idos dos anos 60, alguns jovens decidiram montar um movimento que acompanhava a Beatlemania. No Brasil ele foi chamado de "Jovem Guarda". E, de lá pra cá, um sem número de bandas surgiram e, por um motivo ou outro, acabaram no esquecimento. Outras acabaram por acabar mesmo. E todas essas bandas, dos lugares mais remotos desse nosso país (ou a grande maioria), tem seus registros gravados para a posteridade.
Então eu pensei comigo: "Porque não mostrar aos amantes de boa música essas bandas que acabaram no esquecimento"? Foi com esse intuito que resolvi criar uma nova coluna aqui no blog, chamada "O Rock Brasileiro: as bandas que você deve conhecer melhor". Então, toda semana iremos falar sobre uma banda específica e colocar um link para audição de um de seus registros. E quer saber, tem muita coisa legal mesmo. Não vou me ater a gêneros, vou fazer um apanhado geral, principalmente para que você, que gosta de música de boa qualidade, possa conhecer melhor o rock nacional, tirando as bandas conhecidas e clichês.
Pra começar, vou falar de uma banda que teve 3 discos registrados, a SOM IMAGINÁRIO. Prepare-se:
O que você apostaria numa banda psicodélica formada por membros do grupo que acompanhava Milton Nascimento no fim dos anos 60? Pode apostar alto; os três únicos discos lançados pela Som Imaginário (cujos músicos também acompanharam Lô Borges, Beto Guedes, Erasmo Carlos, Gonzaguinha entre outros) são certeza de uma viagem alcinante. O primeiro, em especial, trazia um som mais pop, que misturava Beatles, psicodelia, rock progressivo, hippismo explícito e praticamente nada, mas nada de MPB - destacando a criatividade de Frederyko, um dos melhores e menos reconhecidos guitarristas do Brasil.
A formação que gravou Som Imaginário foi surgindo aos poucos, no fim dos anos 60. Wagner Tiso, que acompanhava Milton Nascimento desde o início de sua carreira (chegaram a montar, na adolescência, um conjunto de jazz chamado W Boys, graças à predominância na banda de rapazes com a inicial W no nome - Milton, que era baixista, chegou a trocar seu nome para Wilton) se juntou a alguns músicos que tocavam com ele na noite carioca, como o baterista Robertinho Silva e o baixista Luiz Alves, e acabaram formando uma banda para tocar com o cantor mineiro. Antes disso,boa parte da formação do Som Imaginário podia ser encontrada no grupo de bailes Impacto 8 que tinha, entre outros, Robertinho e Frederyko. A banda não deu muito certo - Raul de Souza, trombonista e, em tese líder do Impacto 8, desistiu do grupo após um show no Clube Militar em que todos os músicos simplesmente "esqueceram" de animar o baile para improvisar, solar e soltar os bichos no palco.
Já contando com Wagner Tiso, Luiz Alves e Robertinho Silva, o Som Imaginário logo admitiria Frederyko, o percursionista Laudir de Oliveira (que não ficaria na banda) e mais uma dupla de compositores que também se destacaria o álbum de estréia: Zé Rodrix (órgão) e Tavito (guitara-base e violão de 12 cordas). O grupogravaria o LP de 1970 de Milton Nascimento e logo entraria em estúdio para registrar Som Imaginário, um dos mais interessantes lançamentos da música psicodélica brasileira. O disco tinha muito menos influências de MPB do que o pedigree dos músicos poderia fazer supor.
Até hoje, aliás, o Som Imaginário se dividia entre a banda e vários trabalhos para outros artistas. Com o tempo o grupo foi perdendo integrantes. Zé Rodrix logo sairia da banda para se juntar a Sá & Guarabyra e gravar dois discaços, além de seu primeiro solo de 1973. O segundo disco do Som Imaginário (1971), trazia Frederyko como líder, compondo uma série de faixas anárquicas (como "Cenouras" e "Salvação Pela Macrobiótica"), além do tema "A Nova Estrela", dele e Wagner Tiso. E é a sonoridade de Wagner que domina Matança de Porco, disco de 1972, mais chegado ao estilo que marcaria os trabalhos solo do tecladista. Com três discos bastante diferentes uns dos outros - Milagre dos Peixes ao Vivo, disco de Milton Nascimento, lançado em 1975, que pode ser considerado o quarto LP da banda, por ter sido creditado a eles e ao cantor - o Som Imaginário chegou a um resultado que não permitia comparações com praticamente nenhuma banda nacional ou internacional.
Senhoras e senhores, com vocês SOM IMAGINÁRIO:
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