terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Os melhores discos de 2014 na opinião de Gabi Viaceli


A maioria dos leitores do Aumenta já viram esse nome por aqui algumas vezes: Gabrielle Viaceli. Além de colaboradora de nosso blog, ela é foi a correspondente oficial do Lollapalooza 2014, cobrindo todo o festival e dando um olhar menos superficial e mais amplo do festival. E em 2015 aguardem, estaremos no Lolla de novo. E, já que além de uma amiga querida, nada mais justo que convidá-la para escrever sobre os discos que ela considerou os mais importantes de 2014. E de cara já adiantamos: a lista é FANTÁSTICA. Confira abaixo.


Jack White - Lazaretto

Eu diria que o Jack White é o cara e um dos artistas mais completos da atualidade. O processo criativo e o cuidado com os mínimos detalhes desde a produção até a capa do disco são impressionantes. Esse álbum é a prova disso tudo. Estou ansiosa para ver e ouvir o trabalho dele ao vivo no Lollapalooza 2015.


Foo Fighters - Sonic Highways

O disco que foi gravado em oito cidades dos EUA e documentado, contando as histórias sobre a música em cada cenário. Esse disco vale estar na lista não só pelas ótimas músicas, mas pelo projeto todo, uma ideia louca que foi colocada em prática e deu certo.


Antemasque - Antemasque

Eu simplesmente amo os trabalhos da dupla Cedric Bixler Zavala e Omar Rodrigues-Lopez, que inclui as bandas At The Drive-In e The Mars Volta, a qual tive oportunidade de ver ao vivo. Nesse novo projeto, eles apresentam uma mistura de rock progressivo com punk rock e hardcore, contando com a participação do baixista Flea em algumas músicas. Eu diria que é um trabalho (como todos os outros que envolvem a dupla) que, ou você ama ou você odeia, mas realmente vale a pena ouvir.


Lana Del Rey - Ultraviolence


Ahn? Tá louca Gabi? Não, não estou. Me rendi aos encantos da Lana. O álbum tem como produtores nomes conhecidos por grandes trabalhos, Dan Auerbach, Rich Nowels, Paul Epworth, Greg Kurstin são alguns deles. Acho difícil explicar o que eu gosto nesse álbum, mas além de muito bem produzido, a sonoridade dele é muito boa.


Weezer - Everything Will Be Alright In The End


Se tem uma banda que eu sempre tive dúvidas se gostava ou não, é a Weezer. Queridinha de alguns e chatinha para vários. Esse é o álbum que resolveu o impasse. Super divertido, a cara do Weezer e vale a pena ouvir sem pular nenhuma música.



Smashing Pumpkins - Monuments To An Elegy


Tenho dúvidas sobre esse álbum estar na lista, mas também eu não seria justa se não colocasse. De longe não é o melhor trabalho, mas não deixa de ser grandioso, ainda mais com tantas mudanças que a banda sofreu. Sabemos que  Billy Corgan é talentosíssimo e talvez até auto-suficiente, mostrando que o estilo do Smashing Pumpkins a ele pertence. Por mais que tudo isso pareça uma crítica negativa, o álbum é ótimo. "Eles" também estarão presentes no Lollapalooza 2015.


Kasabian - 48:13


Sabe aquela banda que você acha que nunca vai superar o primeiro disco? Pra mim é a Kasabian, e eles sempre superam os antecessores (mesmo que o meu preferido ainda seja o primeiro). No "48:13", a banda segue o estilo rock eletrônico com uma pegada dark. Você começa o álbum dando aquela balançada na cabeça, logo você está cantando, dançando e fazendo tudo ao mesmo tempo. Resumindo, álbum bem produzido, sonoridade impar, e com crescimento musical sem perder a essência da banda. A banda também estará presente no Lollapalooza 2015.


Interpol - El Pintor

Quem sempre curtiu o som dos anos 80, com certeza ficou de boca aberta quando o Interpol lançou lá em 2002 o "Turn On The Bright The Lights". Sempre mantendo uma certa obscuridade, a banda lançou nesse ano o seu quinto álbum, e que álbum. Introspectivo, mas energético. Sem muita inovação, mas maduro. Há quem diga que o álbum nada mais é que uma repetição, uma falsa originalidade. Sendo ou não, ainda é um álbum que surpreende e vicia. Vamos sentir como é a banda ao vivo no ano que vem.


Temples - Sun  Structures


Uau! Foi isso que pensei quando ouvi. O álbum de estréia da banda conquista qualquer um que curte um rock psicodélico. Dá pra viajar no som e nem ver o tempo passar. A banda se tornou queridinha de muitos músicos como Mick Jagger, Johnny Marr e Noel Gallagher, o que torna ainda mais certo o sucesso da banda.


Beck - Morning Phase


Dá pra chamar um disco de gostoso? Super depressivo e melancólico, mas gostoso de ouvir e ir pro além. Nunca entendi muito bem o Beck. Sempre achei ele um artista estranho, com uma música indefinida e muitas vezes chato. Poderia dizer que eu amadureci, ou a musicalidade desse álbum está realmente apaixonante. Mas o que importa aqui é que o álbum é ótimo, dramático e belo.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Os Melhores Discos de 2014 na Opinião de Fábio Brod



Fabio Brod foi uma das grandes revelações este ano para o Aumenta. Hoje, o Doutor (quiçá PHD) em Ciência de Alimentos e primo de nosso editor chefe, é um amante da boa música. E isso se comprova na lista que ele escolheu como os melhores do ano de 2014. Dá pra ver que o gosto e o conhecimento do rapaz não se resume apenas a The Band, e passa por uma seleção muito bem feita, que agora compartilhamos com vocês.


Pink Floyd - The Endless River

Um dos lançamentos mais aguardados do ano (se não O mais) desde o anúncio  de que um novo álbum do Floyd seria lançado. A notícia de que seriam “sobras de estúdio” das gravações do "The Division Bell" não desanimou a maioria dos fãs. Apesar de não ser um dos grandes álbuns do Pink Floyd, foi uma grata surpresa e um presente aos fãs que esperaram 20 anos para ouvir material inédito. O álbum, em si, é uma compilação de ideias não utilizadas em The Division Bell e traz a sonoridade da banda naquela época. O destaque fica por conta da única música com vocais "Louder Than Words", uma espécie de despedida a Richard Wright. Talvez a grande notícia envolvendo esse álbum foi o anúncio oficial de que este é o último da banda. Enfim, um requiem digno.
Louder Than Words


DeWolff - Grand Southern Electric

Neste quinto álbum, os holandeses do DeWolff adicionam mais uma camada ao seu space blues rock. Uma camada de Southern rock. Lembrando The Allman Brothers em algumas composições, licks e riffs, a pegada sessentista da banda segue intacta. Ponto pra eles.
Dance of the Buffalo


Rival Sons - Great Western Valkyrie

Ah, os anos 70. A época de ouro do rock. A época do hard. Rival Sons é um dos melhores grupos de rock a fazer uso da sonoridade setentista. Dê o play em "Secret", do mais recente álbum da banda, feche os olhos e seja transportado no tempo. 
Secret 


Johnny CashOut Among The Stars

Um álbum aguardadíssimo por este que vos escreve. No início dos anos 80, a música country perdeu completamente a profundidade, transformando-se em algo inócuo e comercial. Tão inócuo que os executivos da gravadora de Johnny Cash não aprovaram o material que ele havia composto para o, então, próximo lançamento. Essas composições ficaram esquecidas e acabaram perdidas após sua morte. Mas eis que elas foram descobertas pelo filho de Johnny Cash, que tratou logo de produzir o álbum inacabado. O resultado é um retrato das composições de Johnny Cash naquele período, cujos temas variam de histórias trágicas (Out Among The Stars) a lorotas hilárias (If I Told You Who It Was), passando pelas clássicas baladas de coração partido (She Used To Love Me A Lot). Um álbum que refresca nossa memória e nos lembra quão poderosa era essa voz.
If I Told Who It Was



Old Crow Medicine Show - Remedy


Uma banda que esqueceu que instrumento elétricos já foram inventados. Crítica? Longe disso. Quem precisa de guitarras elétricas aqui? Bluegrass, Hillbillies e Country roots estão no cardápio desta banda que conta com oito álbuns em sua discografia. Um disco que consegue, junto com o anterior Carry Me Back, capturar todo o espírito do interior extremamente variado dos EUA e transportá-lo às massas, merece ser ouvido com ouvido atento. Nem todo mundo aprecia o regionalismo americano, mas os caras do Espetáculo do Corvo Velho representam bem as raízes musicais da América. Há vários destaques como "Doc’s Day", uma homenagem ao musicista Doc Watson (um dos grandes National Treasures da música americana), "Sweet Amarillo", uma “reciclagem” de um outtake incompleto de Bob Dylan e The Warden, um lamento filosófico sobre um carcereiro. Nesta última, as harmonias vocais provam que o grupo de músicos tem técnica e sentimento de sobra.
Sweet Amarillo


Tom Petty & The Heartbreakers - Hypnotic Eye

Apesar de ter levado três anos para ficar pronto, Hypnotic Eye soa extremamente cru. O que é ótimo, pois estamos falando do bom e velho rock’n’roll. "Fault Lines" é rock vindo da veia, enquanto "Forgotten Man" rivaliza com a inquestionável "Solitary Man". 
Fault Lines


Accept - Blind Rage

Punch! Punch! Punch! É isto que esse disco é. Um soco atrás do outro. Um direto de direita, um gancho de esquerda e um cruzado. Após o renascimento com o mais que ótimo "Blood of the Nations" e do álbum seguinte "Stalingrado", eis que os metaleiros alemães do Accept honram, novamente, suas bolas. Por que? Porque isso é classic metal de primeiríssima qualidade feita para macho. Macho Metal. Não há destaques aqui. Todas as músicas são ótimas em seus temas, que variam de Terra devastada (200 Years) a lições de otimismo (From the Ashes We Rise). Claro, otimismo de macho. Com riffs inspirados e os clássicos coros masculinos, este álbum figura dentre os melhores na discografia da banda.
From the Ashes We Rise


The Levon Helm Band - The Midnight Ramble Sessions Vol 3.

No terceiro (e provavelmente último) volume dos "Midnight Rambles", Levon Helm selecionou todas as músicas deste álbum dentre centenas de canções gravadas durante os inúmeros shows que ele, banda e vários convidados fizeram no famoso barn em Woodstock. Apesar de poucas músicas contarem com os vocais de Levon, seu estilo de bateria é identificado em cada uma delas. Destaques para a ótima "One More Shot", que apareceu pela primeira vez no álbum épico "The Legend of Jesse James" (a coluna "The Faithful Servant" apresentará um review sobre este álbum em breve) e para a ótima versão da clássica "Take Me To The River".
The Same Thing


Blackberry Smoke - Leave a Scar, Live: North Carolina

Primeiro registro oficial ao vivo dos southern rockers do Blackberry Smoke. Com apenas três álbuns em sua discografia (o próximo está previsto para ser lançado em fevereiro de 2015), esta banda já fez o suficiente para ficar entre as melhores do gênero. Este álbum compila alguns dos maiores hits em ótimas performances. Se você ainda não conhece, corra!
The Whippoorwill


Bob Dylan and The Band - The Bootleg Series Vol 11: The Basement Tapes Complete

Ao mesmo tempo em que há muito o que dizer sobre esse lançamento, há pouco o que falar. Bob Dylan. Ponto. The Band. Ponto. Escute e absorva este registro indispensável de uma época extremamente criativa para todos os envolvidos.  Podemos escutar Dylan se divertindo com covers de Johnny Cash e A Banda descobrindo os meandros da composição que iriam resultar no bombástico "Music From Big Pink". Glórias e aleluias a Garth Hudson, que não deu ouvidos a Bob Dylan (“Pra que gastar fita com isso, Garth?”) e gravou o máximo que pode. 
The Basement Tapes Complete Trailer

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Os Melhores Discos de 2014 na Opinião de João Lemos, guitarrista da Molho Negro


João Lemos é um cara que consegue transmitir uma ideia de forma simples, certeira e sem nenhuma firula. Ele é o vocalista, guitarrista e o principal compositor da banda MOLHO NEGRO, lá de Belém/PA. O som da banda navega entre Danko Jones e The Vines, talvez aí a timbragem e riffs característicos de sua banda. E ele tirou um tempinho pra nos dizer quais foram os 10 discos lançados em 2014 que fizeram a sua cabeça durante esse ano. Só tem coisa fina.


1 - Death From Above - The Physical World - Li numa entrevista que eles achavam que era muito tarde já pra lançar um disco novo, 10 anos depois e tal. Ainda bem que eles mudaram de opinião, porque esse disco é bom demais, um Death From Above mais coeso com umas melodias brutais.


2 - Ty Segall - Manipulator - é tipo aquele cara que consegue melhorar sempre, "Feel, the Hand" e "Who Is Producing You" são incríveis.


3 - Die Antwoord - Donker Mag - a banda que mais mete medo hoje no mundo hahaha. O primeiro disco já era legal demais, pegaram mais um punhado de hits e lançaram agora, sem erro.


4 - Bass Drum Of Death - Rip This - Discão de rock duro na cara, 2 guitarras, bateria monstro e delay na voz, destaque total pra "Black Don't Glow" e "Electric".


5 - Aeroplano - Ditadura da Felicidade - acho que foi o disco com o tema mais legal que eu ouvi esse ano. "Drogaditos" é a melhor musica na minha opinião. o Eric consegue ser sutil e filho da puta ao mesmo tempo.


6 - Beck - Morning Phase - Disco lindaço do Beck, fácil fácil se perder nele e ficar viajando naquele monte de arranjo. "Say Goodbye" é de longe minha preferida.


7 - Red Boots - Touch the Void - Sou fã assumido desse duo, Gil e Luan conseguiram deixar a banda mais pesada (!!!) e ao mesmo tempo mais pop, destaque pra "Soul in Reverse". parabéns pela mágica molecada! 


8 - St. Vincent - St. Vincent - Acho que foi dos últimos que fui conhecer, virou minha guitarrista preferida do ano, mereceu um lugar no top 10.


9 - Mogwai - Rave Tapes - é um disco bem mais climático, se é que isso é possível, mas tem uma faixa nele chamada "Repelish", que arrepia, na verdade dá um pouco de medo haha.


10 - - No Mythologies to Follow - acho que de todas essas cantoras a Mø é a que me cativa mais, esquisitinha no ponto certo.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Os Melhores Discos de 2014 na Opinião de Nelson Jr.


Mais uma novidade este ano para os leitores do Aumenta. Convidamos alguns amigos que assim como nós, são amantes de boa música e pedimos para eles elegerem os 10 melhores discos de 2014.

Pra começar a lista em alto estilo, nosso amigo de longa data e colaborador esporádico do Aumenta Nelson Jr. Nelsinho como é chamado pelos amigos é jornalista, já foi colaborador do site Collector's Room e é profundo conhecedor, estudioso e amante da música, seja ela nacional ou internacional. A lista do cara ficou assim, curte aí:


ruído/mm - Rasura

O som instrumental feito pelos curitibanos do ruído/mm (lê-se ruídopormilímetro) é difícil de classificar. Mais difícil ainda é não se rendera esse disco, um caldo que tem jazz, post rock, e até uma pitadinha de baião em "Inconstantina", sua melhor faixa, tudo feito basicamente com o naipe de instrumentos de uma banda de rock. 

É uma viagem completa, de encher a música paranaense de orgulho.


Temples - Sun Structures

Esses ingleses soltaram sua estreia este ano mostrando que não estão de brincadeira. O som do Temples seria a tontura gerada por uma trombada entre o Flaming Lips e o The Kinks. Dançante, pop, eletrificado e psicodélico. Sun Structrures é tudo isso muito bem executado e gravado.



Jack White - Lazaretto

"Lazaretto" é Jack White sendo Jack White. Ou seja, todo mundo sabe mais ou menos como começa e fica assistindo pra ver onde vai terminar. Mais uma vez o resultado é de embasbacar. Em resumo, Lazaretto traz o mesmo blues rock experimental de "Blunderbuss", seu primeiro disco solo, só um  pouquinho mais pé no chão. Ainda assim, genial.


Far From Alaska - ModeHuman

Em Natal, Rio Grande do Norte, surgiu uma das bandas mais interessantes da atual cena roqueira do Brasil. O som do Far From Alaska é poderoso, cheio, de ouvir no último volume e enlouquecer (ou alegrar) a vizinhança. A banda é competentíssima no braço e na caneta, compondo ótimas canções como "Deadman" e "Thievery". ModeHuman é uma coleção de porradas. A vocalista, Emmily Barreto, é um dos destaques. Canta rasgado, como quem mandou a inocência pras cucuias de uma vez só.


Thiago Pethit - Rock'n'Roll Sugar Darling

Um respiro de malandragem. Lembra quando o rock era uma afronta à moral e aos bons costumes, e as jaquetas de couro aguçavam a libido da molecada? Pois é. Pethit usou boas doses de sacanagem sonora para criar esse grande disco.


Weezer - Everything Will Be Alright In The End

Depois de um período de chatice o Weezer voltou a fazer o que sabe: Rock, pronto. "Everything..." vem recheado de boas e dinâmicas canções, além de um ótimo single, "Back To The Shack". Só merecia uma capa melhorzinha.


Foo Fighters - Sonic Highways

Uma jornada pelos Estados Unidos, absorvendo a história da música do país, gravando canções em oito cidades diferentes com convidados locais. Tudo registrado em áudio e vídeo. Resultado? Um documentário e mais um disco do Foo Figthers, com canções eficazes, guitarras e Dave Grohl gritantes como de costume.

A promessa de fazer um monumento à música americana termina na propaganda, pois sem ler os créditos do encarte, por exemple, fica difícil saber quem são os convidados especiais de cada canção.

Um embuste, portanto? De jeito nenhum. O disco é super legal, quando ouvido sem compromisso.


Cachorro Grande - Costa do Marfim

A rebeldia da Cachorro Grande nunca me convenceu. Quem sabe seja por isso que seu disco mais maluco chamou tanto minha atenção. Aqui a banda é outra, eletronificada, mais detalhista, com músicas mais longas e psicodélicas. Muita gente torceu o nariz, mas a gurizada soube mudar de direção muito bem. Entra na lista como a melhor ousadia de 2014.


Morrissey - World Peace Is None Of Your Business

Morrissey diz: "Não complica, senta aí e esquece a geopolítica. Vamos tomar um café e ouvir essa música legal?" E o ouvinte faz isso mesmo.


Pink Floyd - The Endless River

Não é pela música.Nem dá pra chamar "Endless River" de disco, visto que é cheio de sobras e colagens de "Division Bell", de 1994, e poderia bem ser material extra de uma edição especial de relançamento.

Mas a bela homenagem a Richard Wright, um relevantíssimo integrante do Pink Floyd, relegado à reserva por gente pouco informada, não poderia ficar de fora. Um final digno para uma das maiores bandas de todos os tempos.

Gostou? E ainda vem muito mais por aí.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Faithful Servant, a coluna das análises de nosso novo colunista, Fábio Brod.


Antes de mais nada, é com imenso prazer que o Aumenta recebe seu mais novo colunista, Fábio Brod. Ele já circulou por aqui quando escreveu "O Dia em que Roger Waters sentiu-se Cornélio". Agora, ele nos brinda com análises aprofundadas de letras de músicas e, principalmente de sua maior fonte de inspiração a The Band.

E, pra começar em alto estilo, ele nos brinda com "The Night They Drove Old Dixie Brown", um clássico da The Band. Sente-se confortavelmente, bote um fone de ouvido e curta a música enquanto lê nossa coluna. 


Creditada a Robbie Robertson, a letra do clássico definitivo dA Band foi escrita por Robbie e Levon Helm. Em sua autobiografia, Helm conta que o processo criativo dos dois primeiros álbuns envolvia uma espécie de workshop entre os membros da banda. Todos contribuíam, tanto na letra quando na música em si. Levon conta que ele e Robbie foram a uma biblioteca para pesquisar sobre a guerra civil de modo que este, de origem canadense, pudesse obter mais dados históricos.

"De acordo com a Enciclopédia Britânica, o termo “Dixie” refere-se aos estados do sul dos EUA, principalmente aqueles que faziam parte dos Estados Confederados da América (1860-1865) durante a Guerra Civil americana. Esse nome, por sua vez, vem de uma música composta em 1859 por Daniel Decatur Emmet, que se tornou popular como uma “marching song” para o Exército Confederado. explicação mais comum para a origem do termo remonta às notas de 10 dólares emitidas antes de 1860 pelo Citizens’ Bank de Nova Orleans e que possuíam a palavra dix (dez, em Francês) impressa em um dos lados".

Virgil Caine is the name and I served on the Danville train
'Til Stoneman's cavalry came and tore up the tracks again

Virgil Caine é o personagem que protagonisa e “canta” a música. Ele foi um soldado confederado que serviu na linha do trem de Danville. A linha férrea entre Danville e Richmond foi uma importante linha de fornecimento de suprimentos para o exército confederado durante a guerra civil, principalmente porque ligava Richmond (considerada a capital dos estados confederados) ao resto da Confederação. Porém, durante a guerra, a linha foi destruída após sucessivos ataques liderados, entre outros, pelo general de cavalaria George Stoneman. Considerado um péssimo estrategista e culpado pela derrota na batalha de Chancellorsville em 1863, Stoneman foi designado, em 1864, comandante de uma unidade de cavalaria que ficou conhecida como “O Exército de Ohio”. Suas ordens, porém, não eram de batalha, mas subjugar e punir civis rebelados. Suas ações incluíam a destruição de suprimentos e linhas de fornecimento de tais bens.


In the winter of '65, we were hungry, just barely alive
By May the tenth, Richmond had fell
It's a time I remember, oh so well

Aqui entra em cena outro personagem do exército da União: Philip Sheridan. Em junho de 1864 ele derrotou as forças confederadas do Vale Shenandoah e destruiu toda a infraestrutura do vale. Dessa maneira, os fazendeiros ricos da região tiveram suas fazendas devastadas de forma massiva, fazendo com que eles não pudessem mais sustentar nenhum exército confederado. O cerco de Sheridan durou de junho de 1864 até abril de 1865, fazendo com que as tropas confederadas, durante este período, não passasem de farrapos mortos de fome. A rendição dos confederados foi assinada uma semana após alguns assaltos a Richmond na noite de 2-3 de abril. O dia 10 de maio, porém, foi marcado historicamente como o fim da guerra, pois foi nesse dia que o Presidente Confederado Jefferson Davis foi capturado. Assim, o 10 de maio ficou marcado, oficialmente, como “a noite em que eles se dirigiram à “velha Dixie”.

The night they drove old Dixie down
And the bells were ringing
The night they drove old Dixie down
And the people were singing
They went, "La, la, la…"

Back with my wife in Tennessee, when one day she called to me
"Virgil, quick, come see, there goes the Robert E. Lee"

Após a Guerra, Virgil retorna ao Tennessee, sua provável terra natal. Um certo dia sua esposa o chama para ver Robert E. Lee passando. Lee foi o mais famoso dos generais confederados, sendo idolatrado por todo o sul dos EUA e considerado um herói de guerra. 


Now, I don't mind choppin' wood, and I don't care if the money's no good
You take what you need and you leave the rest

Talvez tomado pelas lembranças, ao avistar o general Lee, Virgil expressa seus sentimentos a respeito da Guerra e de como ele se sente com tudo o que havia passado. Ele não se importa em cortar lenha para sobreviver, nem se o dinheiro é pouco. Vive-se com o que se precisa e o resto é o resto...

But they should never have taken the very best

Porém, Virgil se importa com as conseqüências da Guerra lembrando a perda de vidas, uma vez que “eles nunca deveriam ter levado os melhores”. A guerra dourou até 1865 e estima-se que 600 mil pessoas morreram durante o conflito.

The night they drove old Dixie down
And the bells were ringing
The night they drove old Dixie down
And all the people were singing
They went, "La, la, la…"

Like my father before me, I will work the land
Resignado, ele quer voltar às origens como agricultor.

And like my brother above me, who took a rebel stand
He was just eighteen, proud and brave, but a Yankee laid him in his grave

E, novamente lamentando uma perda na Guerra (o irmão mais velho, mas mesmo assim com apenas 18 anos), ele aceita a derrota quando se refere ao irmão, e conseqüentemente a ele mesmo, que “tomou partido” dos rebeldes (took a rebel stand). Sendo um confederado por opção ele somente iria se autodenominar como rebelde ao aceitar que havia sido derrotado. Neste ponto torna-se importante o estado natal do personagem – Tennessee. Este estado, juntamente com Missouri e Kentucky, estava hesitante sobre qual lado deveria apoiar, uma vez que não era um estado com grandes fazendas escravagistas, mas formado principalmente por minifúndios e dirt farmers. O governo do Tennessee foi o último a declarar a secessão da União, ou seja, a apoiar a Confederação. Desta maneira, os Caine escolheram (took a stand: escolher, decidir, tomar partido) a “rebelião” e, após a derrota, Virgil se resigna e aceita o fato.

I swear by the mud below my feet
You can't raise a Caine back up when he's in defeat

Enfim, completamente resignado, ele jura pela lama sob os próprios pés (enfatizando a miséria de um ex-soldado confederado que corta lenha para sobreviver) que um Caine não pode ser re-erguido após estar derrotado. Alguns estudiosos da obra dA Band, defendem que o nome Caine é um trocadilho com Caim (em Inglês, esses nomes têm praticamente a mesma pronúncia). Essa escolha enfatizaria a rebeldia dos irmãos rebeldes e a “justa” punição imposta e o fato de que, uma vez caído, um Caine/Caim não poderá ser re-erguido. Além disso, a Guerra da Secessão foi considerada uma guerra entre irmãos, referindo-se tanto aos estados irmãos quanto a irmãos que lutaram (matando-se uns aos outros, por vezes) em lados opostos. Como sabemos, o personagem bíblico Caim matou o irmão Abel. E todos sabemos quem foi o verdadeiro derrotado...

The night they drove old Dixie down
And the bells were ringing
The night they drove old Dixie down
And all the people were singing
They went, "La, la, la…"

Quanto ao refrão, “A noite” pode ser uma alusão à noite específica da rendição, na qual os vencedores se dirigiram triunfantes à “velha Dixie”. Além disso, a palavra noite evoca a escuridão, a tristeza, a morte. O restante pode ter um duplo sentido: um lamento dos derrotados (sinos eram tocados em sinal de aviso e derrota) ou uma zombaria dos vencedores (la, la, la).



quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Nick Drake: O que o Tempo não Levou


Texto dedicado ao grande amigo, irmão, compadre e fã de Nick Drake, Rodrigo Eduardo Giareta.

"O tempo me disse para não pedir por mais, pois um dia nosso oceano encontrará sua praia" - É interessante como, antes dos 30 anos, Nick Drake escreveu tanto sobre a figura do tempo. Em sua breve discografia, marcada por três obras, assim como nos lançamentos póstumos, o tema se repete na ironia de uma vida tão breve, que mal teve oportunidade de ver o tempo passar de fato.

Recentemente, seu nome tem sido mais frequente, já que o 25 de novembro de 2014 marcou os 40 anos do seu falecimento. As quatro décadas foram tempo mais do que suficiente para que o oceano de suas composições encontrasse as praias de inspiração para tantos músicos que, em diferente continentes e períodos, reconhecessem a genialidade e talento do compositor - algo que ele nunca viu em vida e que, pelo que contam, contribuiu com a depressão que levou sua vida.

Não se sabe se ele errou a dose dos remédios naquela noite de propósito ou não. Gabrielle Drake, sua irmã mais velha, disse certa vez que preferia que fosse decisão dele, não um acidente tão trágico que poderia ser evitado. Ela é a única membra viva da família e tem, além da carreira consagrada como atriz na Inglaterra, o trabalho de perpetuar a memória do irmão- incluindo os recentes lançamentos de raridades do músico.


Sua história é melhor apreciada assim, de trás pra frente. Fica a impressão de que contemplar sua obra a partir de sua morte é mais do que finalmente valorizá-la devidamente, mas encontrar uma nova melancolia em suas composições. Sim, elas são de uma beleza que dói, mesmo quando não se apresentam tristes. E, sim, revelam uma mente que não poderia mesmo pedir por mais tempo (como a letra da música diz), porque já havia suportado mais do que conseguia.

O que ficou foi uma beleza que chega a doer em cada uma de suas faixas, tenham elas muitos timbres (cordas, sopro, etc) ou apenas voz e violão. Nick sabia como poucos desenhar linhas melódicas para cada voz em arranjos que impressionam não pelo tamanho, mas justamente pela simplicidade. É como se ele fosse reger uma orquestra inteira e a sinfonia coubesse em um sussurro. Dádivas da timidez crônica.

É estranho falar em "aniversário do falecimento", já que a primeira palavra carrega uma carga festiva imediata. Comemoremos, entretanto, sua obra e inspiração rendida sem data de validade para acabar. É impressionante a quantidade de bandas que citam Nick Drake como influência (The Cure, REM e The Black Crowes, só pra citar alguns). De tão breve, sua vida permanece jovem hoje e sempre. E a melancolia presente nisso tudo tem a ver com sua música. E é bela.


Será lançada em breve uma grande biografia de Nick Drake (1948-1974) e o livro virá acompanhado de um vinil de 10" com versões nunca antes ouvidas de músicas gravadas durante uma sessão na rádio BBC em 1969.

"Time Of No Reply", "River Man", "Three Hours, Bryter Layter" e "Cello Song" são as faixas, que vem acompanhadas de três fotografias como bônus do livro. Esse, por sua vez, trará depoimentos sobre o músico e reproduções de manuscritos de suas composições.

Nick Drake: Remembered For A While tem lançamento em 6 de novembro no exterior.


Fonte: Monkeybuzz