Posted: 28 de setembro de 2011 | Por Felipe Voigt |
Cara Cláudia,
Tive o desprazer de ler sua postagem sobre as criticas recebidas por seu show no Rock in Rio. E confesso que me assustei com o que li. A forma como a senhora tratou os que a criticaram em nada difere da postura deles. Foi arrogante, se colocou como falsa-humilde que esconde a pseudo superioridade.
Dizer que quem a criticou por sua duvidosa apresentação é gente desocupada é um tanto quanto controversa. Afinal, a senhora mesmo os criticou em seu blog. Talvez também não tenha o que fazer, então...
A senhora não foi respeitada porque não respeitou primeiro. Teve a mesma soberba de outro artista que levou uma chuva de garrafas na edição passada. Chegou querendo impor e se impor, esquecendo-se de que não estava em um terreno “seu”. É fácil ser estrela em uma micareta, mas deve ser foda saber que não era a artista principal da noite no festival em que tocou, não?
Nem todos são tão radicais como a senhora se colocou em seu blog. Em 2001, estive no Rock in Rio III para assistir ao show do Neil Young. Antes, entre outras bandas, assisti a apresentação de Elba Ramalho e Zé Ramalho, notoriamente não-roqueiros. E, sem surpresa alguma, um público de quase 130 mil pessoas aplaudiu, dançou, cantou e respeitou o trabalho de ambos. Tocaram forró, frevo e tudo mais... E por que o público teve esse prazer e respeito? Porque ambos são artistas que, fora dos palcos, possuem carisma, humildade, competência e talento para saber lidar com as diferenças. E respeitaram o público que estava diante deles.
Pois bem: pode-se dizer, aparentemente, que sou um roqueiro ofendido com a forma como tratou aqueles que gostam de rock e não gostam de axé. Ok, assumo meus preconceitos em relação a esse tipo de música. Mas não sou xiita como a senhora se colocou em relação aos roqueiros. Ano passado estive em um show da Ivete Sangalo em minha cidade. Nunca, em sã consciência, iria a um show desse. Mas fui por razões profissionais. E gostei do que vi, mesmo não gostando do ritmo.
E por que gostei? Por causa da forma como a cantora tratou seu público e, principalmente, a maneira como se portou fora dos palcos, respeitando, sim, as diferenças. Nunca vi ninguém conquistar minha simpatia da maneira como dona Ivete conquistou aquele dia. Continuo não gostando de sua música e de seu estilo musical, mas passei a respeitar muito a artista.
Por falar nela, a referida postagem em seu blog apenas levantou a bola na área para que Ivete fizesse um gol de placa e te mostrasse como conquistar outros roqueiros em um festival que leva o nome de “rock”. Mas isso deve doer mais do que qualquer outra critica que nós, reles mortais, possamos desferir em sua leittosa direção.
E só uma dica: não use mais o nazismo como forma de reforçar uma idéia. Isso demonstra falta de argumentos e preguiça mental, pois sabe que todo mundo sempre rechaçará qualquer atitude parecida com a do “ariano”. Lembre-se que o próprio arrastava milhares de pessoas por onde passava, falava com eles de cima de um palco e dizia que quem estava contra ele era ignorante e, provavelmente, não tinha o que fazer na sua doentia concepção. Nesse caso, sua postura não difere muito da do ariano, não... Ele generalizou os judeus, você generalizou os roqueiros. Ambos diante de uma multidão de fãs.
No auge de sua soberba, a senhora chega inclusive a tratar roqueiros como seres desprovidos de inteligência mesmo que remota, já que pede para entrarem no Google e pesquisar sobre o “ariano que se achava superior aos judeus”. Aposto que se fizer uma enquete entre seus fãs, muitos sequer saberão escrever Hitler... quiçá saberão quem foi! Mas o que esperar de alguém que compra um DVD da senhora, não?
Dizer que um roqueiro se acha superior por conhecer Metallica ou Coltrane é o mesmo que se sentir gostosa por fazer um clipe com ex-Menudo recém saído do armário. Quem esfrega o que na cara de quem?
Mas é sempre assim, não? Quem critica o faz por inveja, queria estar no seu lugar, em cima daquele palco, não é? Claro: o mundo inveja Cláudia Leitte... que humildade, que modéstia, que exemplo!
O pior é vê-la criticando os artistas internacionais por atraso, por mostrarem a bunda, por não conseguirem “conciliar a respiração com o canto” – clara alusão à Kate Perry, que NÃO foi vaiada no mesmo dia em que a senhora se apresentou, mesmo ofegante.
Os critica por que? Posso usar sua mesma forma de pensar e achar que está com inveja deles? Olha, acho que posso... Releia sua frase:
“pouco se importam conosco, querem beijar na boca, ir à praia e tomar nossa cachaça, e nós, que pagamos caro para assistir aos seus ‘espetáculos’ em nossa terra, aplaudimos a tudo isso”.
Falou a senhora conhecida por uma música cujo refrão é “eu quero mais é beijar na boca”!
Sinto um enorme ressentimento vindo dessa frase... Porque os que pagaram caro para ver o show dos internacionais também pagaram caro para ver o seu show – e seus outros shows não devem ser baratos, também. Mas eles cobraram mais cachê, não é? Acho que isso que deve doer...
Talvez um dia a senhora consiga alugar um “garden” qualquer pra alavancar sua carreira internacional e, quem sabe, gravar um single com algum desses mesmos artistas que criticou. DUVIDO que vá falar: “não aceito porque você foi ao Brasil, atrasou o show, beijou na boca e bebeu cachaça!”.
Assim como você disse ter gente honesta trabalhando com você, eles também possuem gente honesta trabalhando com eles. Mas a senhora também não respeitou isso...
Enfim: perdeu uma ótima chance de ficar quieta.
PS: se tem mesmo todo esse respeito por Rita Lee, nunca mais faça um show em um rodeio, ok? Não importa o quanto paguem, o respeito que tem por ela não deve ter preço, certo?