"Escolha viver. Escolha m emprego. Escolha uma carreira, uma família. Escolha uma televisão enorme. Escolha uma lavadora de roupas, um carro, CD Player e abridor de latas elétrico. Escolha saúde, colesterol baixo e plano dentário. Escolha viver. Mas por que eu iria querer isso? Escolhe não viver. Escolhi outra coisa. Os motivos? Não há motivos. Quem precisa de motivos quando tem heroína?".
É exatamente desta forma, com este discurso, que Danny Boyle abre Trainspotting - Sem Limites, o mais completo e corajoso filme sobre sexo, drogas, rock n' roll, juventude, magreza, polícia, violência, anarquismo, cultura pop, assalto, capitalismo e burguesia já feito no cinema. A cena é uma das mais famosas do planeta.
Lançado em 1996, até hoje tem uma legião de fãs. Com várias referências como Laranja Mecânica e Quentin Tarantino, o filme trata de autodestruição, de garotos sem perspectivas, presos ao ódio pela sociedade. É adrenalina do começo ao fim, tem que ter estômago pra aguentar as cenas, que são muito pesadas. Como não lembrar da cena em que Renton está mergulhado no vaso sanitário em busca de seu supositório de ópio, ou de quando o próprio, após uma overdose, cai em uma "cova", uma espécie de estágio entre a vida e a morte, e começa a ver as coisas e as pessoas ao seu redor através de um enquadramento bizarro.
A trilha de Trainspotting é um capítulo à parte: temos o Britpop lado a lado com a música eletrônica e os queridinhos do cool: Iggy Pop, David Bowie e Lou Reed. Brian Eno, eterno produtor do U2, aparece com uma faixa do documentário Apollo, parte de uma trilha composta exclusivamente por ele. A etérea "Deep Blue Day" é usada na cena do mergulho na privada. O Primal Scream toca "Trainspotting", uma faixa instrumental de 10 minutos de duração. Do New Order ouve-se um de seus primeiros hits, "Temptation" (1982), justo daquela época onde eles conseguem superar o legado do Joy Division, que também está na trilha com "Atmosphere". Damon Albarn e também o Blur fazem parte da trilha sonora. Mas quem tem o maior destaque mesmo é a Underworld com "Born Slippy [NUXX]".
A trilha sonora de Trainspotting é bem pensada e flui naturalmente. Ela consegue traduzir musicalmente as vivências do filme - os dramas de seus personagens, suas aventuras, seus momentos de revelação. Além disso, ela captura a música pop britânica num grande período.
No fundo, o filme é uma crítica ao consumismo de nossos tempos (Choose life...); no final, até as drogas tornam-se supérfluas, assim como, as sociabilidades e as amizades que elas criam.
Se você está sem opções para o seu fim de semana, recomendo que conheça melhor este clássico do cinema. Veja o filme e curta a trilha sonora.
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