sexta-feira, 14 de junho de 2013

A Donzela de Ferro e a História: No Prayer For The Dying (1990)

Adrian Smith deixa o Iron Maiden para seguir em carreira solo. E em seu lugar entra Janick Gers. Gers tocou na Ian Gillan Band e em 1989 juntou forças à Bruce Dickinson, que na época lançou seu primeiro trabalho solo, o Tatooed Millionaire. Janick Gers é contestado por boa parte dos fãs do Iron Maiden. Mas uma coisa há que se dizer. Sem Adrian Smith, a qualidade das composições da banda caem, isso é inegável.

Também é em 1990 que alguns álbuns clássicos são lançados: Violator do Depeche Mode, Rust In Peace do Megadeth, Goo do Sonic Youth, Painkiller do Judas Priest, Facelift do Alice In Chains, Cowboys From Hell do Pantera, Season In The Abyss do Slayer entre tantos outros que foram importantes para a música. Também marca o surgimento do Grunge, com Nirvana, Pearl Jam, Soundgarden entre outros tantos.

Este álbum é considerado um dos mais fracos da banda. Mas há quem se apegue a este "patinho feio" da donzela. E é aquela coisa, não dá para ser brilhante sempre.

De qualquer maneira, este álbum, assim como os outros da donzela, traz mais e mais história por trás das composições.


Iron Maiden - No Prayer For The Dying (1990)


Tailgunner (Artilheiro) nos traz de volta para as guerras aéreas na segunda guerra mundial, como em Aces High, tema que a banda (pelo jeito) deve gostar bastante.

Desta vez o som nos leva para o bombardeio em Dresden, na Alemanha, entre 13 e 15 de fevereiro de 1945 pela RAF e USAAF (força aérea inglesa e estadunidense, consecutivamente). Este bombardeio chama a atenção pela força desproporcional utilizada pelas artilharias.


A cidade estava cheia de civis, não tinha defesas fortes e militarmente não era interessante para os inimigos. Porém, o comandante da RAF, Arthur Harris convenceu a USAFF que o ataque era necessário para destruir as linhas de comunicação alemãs e diminuir a moral.

Por muitos, o ataque foi considerado um crime de guerra, por outros o ataque fazia parte da estratégia assim como o ataque a várias outras cidades.


Na época em que a revista Veja ainda não mentia, em 1945, ela publicou um artigo intitulado "O Massacre de Dresden". Clique aqui para ler.

Em 1992, uma estátua de bronze foi erguida para Arthur Harris em Londres. O povo e imprensa mundial criticaram a homenagem devido as mortes (teoricamente) causada por ele nos bombardeios a Dresden. Em sua biografia, Harris disse que o ataque a Dresden fazia parte da estratégia, e que era decisão de gente mais importante do que ele.

Churchill era o primeiro ministro e  ministro da defesa na época em que o ataque foi planejado. Ele não tomava parte em todas as decisões, mas em algumas delas. E o ataque a Dresden, além dos motivos citados anteriormente, também ajudariam os russos.


Bruce Dickinson comenta a faixa em questão: "O título da música veio de um filme pornô, sobre sexo anal, então eu pensei: bem, eu não posso escrever sobre isso! Então eu escrevi sobre artilheiros de verdade. Eu tinha algumas frases que começavam com 'trace your way back fifty years, to the glow of Dresden, blood and tears' [Volte seu caminho 50 anos para a glória de Dresden, sangue e lágrimas]. Eu sei que não devíamos mencionar a guerra, mas é sobre a atitude dos caras que bombardeiam. Era morte de verdade nos céus sobre eles. Mas não há mais artilheiros nos aviões, é tudo feito por computadores usando mísseis. Costumava ser home a homem, mas agora, é máquina por máquina. Quem ainda usa balas?"


Holy Smoke dá sequência ao álbum, fazendo uma sátira contra a religião ("Believe in me, Send no money, I died on the cross and that ain't funny"). Mais exatamente contra os pregadores hipócritas que existem na TV.

Na música, a banda fala sobre Jimmy Reptile, que é na verdade Jimmy Swaggart, uma espécie de RR Soares ou Silas Malafaia, um pregador que se aproveita do sentimento de culpa imposto sobre os cristãos para arrancar-lhes dinheiro. Bom, o "santo homem" foi pego duas vezes traindo a esposa e, em 1988, foi pego com prostitutas no Texas.


O "Príncipe das Trevas" Ozzy Osbourne, também fez um som para "homenagear" este cidadão: Miracle Men (assista ao vídeo).

No Prayer For The Dying é a faixa título do álbum, e ela é bem bonitinha, uma das mais bonitinhas da Donzela. Existe um filme com nome parecido, A Prayer For The Dying (1987), mas a letra da música não tem relação com o filme.

A letra fala sobre o sentido da vida; já o filme, fala sobre um agenda do IRA que explode um ônibus com crianças quando tentava explodir um caminhão com tropas. Após isso, ele deixa o IRA. Porém, a organização vai atrás dele para queima de arquivo.

Public Enema Number One. Para você e nós nunca mais errarmos o nome da música: é ENEMA e não Enemy. Este é outro som em que o ânus alheio toma parte.

Enema é a introdução de um líquido no ânus para lavagem, purgação ou administração de medicamentos. Em filmes pornôs é muito utilizado antes do sexo anal. Quem vai explicar do que se trata esta música é o próprio Bruce Dickinson:

"Este som na verdade é sobre hipócritas verdes (ambientalistas). É sobre um cara grande com seu carro veloz, e ele está deixando a cidade em uma nuvem de fumaça com as crianças chorando de medo. Ele pegou sua viagem só de ida. Ótimo, até mais ver. Porque ele pode, ele deixa todos para trás, deixa as cidades superlotadas, armas, revoltas e parece que todos vão enlouquecer. Os políticos mentem para salvar sua própria pele, apostando que eles vão fazer a coisa certa e dão para a mídia bodes expiatórios a todo momento. A coisa toda é baseada entre New York e Los Angeles, e eu só espero que as crianças hoje em dia tenham mais cérebro do que os desgastados restos das gerações de 60 e 70. Califórnia sonha e a Terra morre chorando! É sobre isso, pessoas falando do meio ambiente e não fazendo nada".


Fates Warning fala sobre destino e só. The Assassin é ótima, e nos remete a mesma sensação da música "Killers", onde é narrada a sensação de um matador. Em Killers parecia mais doidão, aqui é um cara sangue frio, mas ainda psicopata.

Segundo Bruce, a ideia era entrar na cabeça de um assassino. ele não fazia por dinheiro, fazia porque achava legal, calcular fria e sadicamente seus movimentos.


Run Silent Run Deep é baseada no romance do estadunidense, ex-oficial da marinha e escritor, Edward L. Beach Jr (1918-2002). Há também um filme de 1958 de mesmo nome.

Edward participou da Batalha de Midway durante a segunda guerra mundial. Esta batalha foi travada entre EUA e Japão seis meses após o ataque japonês a Pearl Harbor, ela iniciou a guerra do Pacífico.



Bruce havia escrito a letra para o álbum Somewhere In Time, até que neste álbum ele disse para Harris que esta letra se encaixava bem neste som. É uma música sobre batalhas no mar na segunda guerra mundial.


Davy Jones (Davy Jones' Locker) é um eufemismo para quem morre no fundo do mar. O que se sabe é que ele é uma lenda, mas sua origme é incerta. A primeira menção a Davy Jones está na obra The Adventures Of Peregrine Pickle de Tobias Smollett (1751). Mais recentemente, ele teve sua história contada em Piratas do Caribe, filme que conta a história do capitão Jack Sparrow, interpretado por Johnny Depp.

Hooks In You é a última colaboração de Adrian Smith com a banda até seu retorno em Brave New World. Este som faz parte da "Saga da Prostituta Charlotte". Aliás, há discussões se ela faz parte ou não. Nesta faixa há uma menção para 22 Acacia Avenue: "I got the keys to view at number 22".

Bruce novamente faz menções sexuais nesta faixa. O vocalista do Iron Maiden diz que estava a procura de uma casa para comprar, e em uma delas haviam três gays, um deles obviamente era sadomasoquista (com roupas de couro e tudo o mais), e em um dos quartos haviam ganchos industriais parafusados nas vigas. Depois disso ele foi para casa e escreveu a letra. Ah, e ele não comprou a casa.


Bring Your Daughter... To The Slaughter foi escrita por Bruce e as guitarras são de Janick Gers, antes dele entrar no Iron Maiden. A música foi feita para o filme A Hora do Pesadelo 5 (1989) e Harris gostou tanto que a colocou neste álbum. Fez certo, ela é uma das que salvam o álbum.


E, finalmente, Mother Russia!

Segundo Bruce Dickinson, "Mother Russia é sobre a tragédia de uma grande terra, que tem uma incrível história de ser invadida e as pessoas massacradas, por séculos, e a música diz: Não seria ótimo se a Russia finalmente se unisse agora e vivesse em paz?"

A música não é uma homenagem a queda do regime comunista, poia a URSS só caiu em 9 de dezembro de 1991, mais de um ano após o lançamento desse álbum. Alguns post relacionados a URSS você pode ler aqui neste link.

O próximo álbum é Fear Of The Dark, e depois um até logo de Bruce para o Maiden e seus fãs.

Abaixo o álbum na íntegra.


No Prayer For The Dying (1990)

01. Tailgunner
02. Holy Smoke
03. No Prayer For The Dying
04. Public Enema Number One
05. Fates Warning
06. The Assassin
07. Run Silent Run Deep
08. Hooks In You
09. Bring Your Daughter... To The Slaughter
10. Mother Russia

Formação

Bruce Dickinson - Vocalista
Steve Harris - Baixo e Backing Vocals
Dave Murray - Guitarra
Janick Gers - Guitarra
Nicko McBrain - Bateria.

Leia o post anterior: Iron Maiden - Seventh Son of a Seventh Son (1988)

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